POETA ALEXANDRE DE PAULA!
Soneto Para Não Morrer
Quando eu for embora na brisa quente
Não deixe sumir do peito o calor
Não deixe calar a voz. Quando eu for
Não me deixe ver o caminho à frente
Não me deixe ver, p´ra que no furor
Não queira voltar tão subitamente
E mesmo que só e um tanto descrente
Os pés neste chão possa sempre pôr
E quando eu voltar, olhe no meu rosto
Verá um sorriso, um olhar altivo
Quem sabe me veja só assim disposto
Quando eu for-me embora no velho crivo
Quero antes sentir aquele ébrio gosto
P´ra ter a certeza de que estou vivo.
Alexandre de Paula
Dois olhos
Como se em verdade a verdade eu fosse
Dois olhos me fitaram frente a frente
Dois globos se fundindo plenamente
Na essência que o não-ser a mim me trouxe
Como se em verdade a mentira eu fosse
Os olhos mesmos me fizeram crente
Dois lábios se deixando secamente
Na florescência de algo que acabou-se
Como se por certo o certo eu não era
Se fez em mim enlace tão perfeito
E em face do mais ínfimo despeito
Desfiz-me em pó e vento qual quimera?
E como se por fim eu fosse fera
Eu que nunca santo, nunca eleito
Dois olhos me domaram cá no peito
Como se eu só fosse nada. E eu era.
Alexandre de Paula
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