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segunda-feira, 13 de setembro de 2010



PEQUENAS GRANDES PÉROLAS

EVISCERAÇÃO

Espere pela volta das borboletas na poeira do tempo
Espere por aquele olhar a se projetar entre estilhaços de angústia
Espere pela nuvem de gafanhotos-devoradores-de-horizonte
Mas não vá, fique um pouco mais, ainda há muito o que esperar
E não me deixe plantado neste inferno cor-de-rosa sem um porquê

Eu bem que queria lhe dizer que a lágrima não se mostra
Por puro orgulho
Eu bem queria lhe mostrar
Esta jugular que pulsa a espera de uma nova mordida
O que se esconde neste brilho que já não há
E revelar aonde a lua se ocultou e dormem as estrelas

Fique um pouco mais
Só um pouco mais
Sinta o som do mar
Sinta o som
O som do mar
E o som
Do Sol
E o Sol
No mar
Fique um pouco mais

Queime comigo nossas verdades douradas e as mentiras azuis
Não minta mais para o azul
Ou para o vermelho
Espalhe algumas verdades transparentes sobre a mesa
Diga para mim desta ferida
Daquela esperança forjada em frases insolúveis
Do impossível e do improvável que já vivemos
Que eu prometo
Que eu lhe juro
Pela divina providência dos semideuses
Estancar este corte que vaza minhas vísceras
E partir

(Celso Mendes)

Castrando o verbo

Calando o grito
Rasgando o céu
Em labirinto
Água no fogo
Óleo na água
Amor tão tosco
Palavra amarga
Frase sem rima
Nem de menina...
Derrama seca
Mais uma lágrima
Castraram a vida
Mataram a paz
Queimaram poesia
Beleza jamais
Golpe de facão
No peito da lua
Castraram a razão
Da embriaguês tua
Pingou gelo seco
No lago do tempo
Mataram meu verbo
Morreu meu momento

Márcia Poesia de Sá


(CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR)

A ponte

Entre mim e meu eu superior,
Sei que existe um vão
Mas ainda não encontrei.
A ponte.

Metade de mim
Tem certeza que
Existe um outro horizonte,
No outro lado da ponte.

Eu sei que vou chegar
Ao outro lado da ponte,
Onde eu vou ficar face a face
Com meu auto conhecimento
E o real entendimento
Do que sou, de onde estou.
Meus pedaços vou juntar,
No outro lado da ponte.

E, na minha evolução,
Em que estágio estou?
Essa é a indagação,
Cuja resposta vou encontrar,
No momento que atravessar
A ponte.

No lado de lá da ponte,
Metade de mim me acena.
E a outra metade ordena
Que eu atravesse a ponte
Para juntar as metades
E perceber o que não vejo
No lado de cá da ponte.
E o que não veria,
Se estivesse
No lado de lá da ponte.

Na pequenez da minha mente,
Eu sei que é premente
O desejo de me conhecer,
Para um dia poder ser,
Em vez de estar meramente,
Do lado de cá da ponte.

O poeta, em sua canção, diz:
“Sou caçador de mim”.
Busco-me incessantemente.
Estou caçando meu outro eu,
Que está no lado de lá da ponte.
Não sei se é para ser feliz,
Mas sei que é para ser inteira.
E para anular a cegueira,
Só atravessando
A ponte.

Não me contento em viver
Com apenas metade de mim,
No lado de cá da ponte.
Quero ser um ser inteiro,
Conhecer o eu verdadeiro,
Quero somar as metades,
No outro lado da ponte.

Seja qual for o resultado,
Se juntar os dois pedaços,
Atravessando a ponte,
Vou apertar minha mão,
Olhar minha face oculta,
A metade que me espera
No outro lado da ponte.

Jane Moreira

O dual!.

Mestre, nos mostre,
como estar na dualidade,
sem compreender a ilusão,
sem ser ferro ou algodão?

Sem ser nem lá nem cá,
assistir a difícil situação
ser doce, meiga, algodão,
quando o homem mata?!

Ou, é claro, amado mestre,
ser ferro, ser dura, em ocasião,
quando a criança olha e chora,
por um simples pedaço de pão?

Como, mestre usar duas máscaras,
quando julgo meu próximo... irmão,
sem consciência de meu passado
sem compreender-lhe a missão?

Ser ferro ou algodão, nesta vivência
ilusória, não traz proveito algum,
já que no dual o jogo é a paciência,
e a dependência de nossa memória ...

Com teus ensinamentos devo conhecer:
que a compaixão é o melhor caminho,
que a dualidade existe para evolução,
e sabedoria é a arma da razão.


Godila Fernandes

[UNI]VERSO

Entre versos, meu inverso
Diversamente traçado...

Cada traço um caminho...
Cada caminho um traço...

Colorido entre rimas
Soltas no imaginário.

Cada rima um arremate
Entre espaços indefinidos...

Em cada espaço um conflito
Pelo verso superado.

Entre versos meu inverso
Universo revelado.

Mavie Louzada.

O PRÓXIMO PASSO

Anseio
dormir na lua
e acordar enfeitiçada
andar boba pela rua
imaginando ser amada

Anseio
nas estrelas amar
entre raio e trovão
na madrugada acordar
e reviver a paixão

Anseio
dominar a escuridão
tomar a noite nos braços
e ensinar ao coração
a dança desse noturno compasso

Anseio ser o próximo passo

Amélia de Morais

Aos poetas do Amor!.

O poeta convive com a dor,
faz dela seu instrumento maior,
sádico faz de seu sofrer, versos,
puro e desesperado amor...

O poeta convive com a alegria,
faz dela cores com que pinta a tela
de emoções que jorra no papel,
feito luz em candeiro, numa redoma...

O poeta convive com a Natureza,
faz dela instrumento de pura magia,
fala com duendes, silfos e fadinhas
e no papel transforma-os em poesia...

O poeta só não consegue conviver com o feio,
não nas formas, não nas cores, não no natural,
porém o feio feito de sombras, que nem magia
o pode transformar. O único feio, ...o desamor!

Godila Fernandes

Era uma lágrima pequenina,
perdida em sonhos,
ardia em febre no meu colo;

levei-a para dormir,
deitei-a em meu travesseiro de plumas
e logo vieram suas irmãs,
infantes, como ela,
inconsoláveis;

cantei um canto melancólico
a ver se dormiam
e elas foram chegando, dezenas, centenas,
milhares de lágrimas gêmeas,
como bebês, chorando;

não pude fazer nada
alem de cantar para elas,
desconsolada;

supliquei aos anjos
para acalmá-las, dar- lhes sono,
sonhos macios
como os meus,
ainda que impalpáveis,
irrealizáveis,
sonhos doces de sonhar;

desliguei as luzes da ribalta,
os modens, as mídias,
só ficou o vento gemendo na janela.

Dormi a sós com ela, minha lágrima menina,
herdeira do amor, futura rainha
dos anelos .

Quando o sol surgiu
por detrás das magnólias,
acordamos, abraçadas;

agora, vou levá- la ao jardim
para ver a seca devastadora
nos canteiros de lírios
que circundam a moradia

e que sobrevivem,
apesar da secura,
tão somente
pela graça da poesia
e da ternura.

Carmen Regina

ARRISCO-ME

Arrisco-me, agora, sem medo
pois já não há segredos ocultos
foram-se embora os vultos
que tanto perturbavam-me

Arrisco-me, agora sem culpa
pois não há desculpas tramadas
foram-se embora as teias
que tanto prendiam-me

Arrisco-me e arriscarei-me sempre
pois daqui por diante não permitirei
que as dúvidas traiçoeiras , de mentiras tantas
façam-me perder os soprados sonhos...

(Lena Ferreira)

MARIA, DE MAGDALA

Companheira,
aquela gêmea
parte fêmea
da chama
primeira

Mensageira,
junto dele
propagou a luz
Mulher de Jesus
inteira

Hoje é Nada
Mestra do Amor!

Anorkinda

Só mais uma vez

Deixa virar saudade e alimentar você
Com a minha presença
Só mais uma vez ser lembrança

Deixa ser o sorriso e beijar sua boca
Sentir sorrindo você
Só mais uma vez abraçar sua alegria

Deixa me vestir com seus sentimentos
E encontrar o amor perdido
Só mais uma vez achar ser seu carinho

Deixa colocar a disposição o meu conforto
Suprir a ausência do aconchego
Só mais uma vez dormir ao seu lado

Deixa ser apenas uma letra do seu alfabeto
Encontrar o vocábulo perfeito
E fazer da única letra a grafia completa

Deixa ser só mais uma vez esse poema
A qual traduz em versos
O meu relicário...
O meu tesouro bem guardado...

André Fernandes

Lá vem... Lá vai!.


Esta é a dança Divina,
sempre do amor-desapego,
lá vai um filho,o pródigo vem,
O encontro é no horizonte...


dores como em Sophia,
ossatura abrindo-se,
o esperado forçando saída,
lágrimas de amor espremidas...


antecipado o parto dolorido,
lá vem... mais um esforço,
e o rebento explode em vida,
e a mãe chora a beleza, comovida!

Noutro aposento do mundo,
uma mãe começa sua partida,
choram filhos, choram netos,
não confiam que ela ainda aqui estará...

A derradeira inversão...
a musculatura forçando o ar,
a passagem em túnel abrindo-se,
e lá vai, uma mãe, agora,um alguém!

No bailado Onisciente do Pai,
é sempre assim enquanto um vai,
e com lágrimas é recebido,
outro vem, e com mesma lágrima é bem-vindo!

Entre um ir e outro vir,
há apenas uma membrana,
tão transparente, que é fácil ver,
o outro sorrindo no horizonte!

Godila Fernandes

Teremos esse prazer um dia??

Essa minha alma vagante
Que pensa um dia ser poeta
Vaga como andarilha errante
Procurando uma porta aberta

Vaga como eterna militante
Por entre becos e retas
Buscando talvez uma ponte...
Não há ponte, há arestas

Arestas aparas e corte
E se grana não me resta
Sobra-me esta única fonte
Que a net me empresta

Até que um dia se encontre
Quem se lembre dos pobres poetas
Que batam à nossa porta e nos conte
Que publicar é gratuito... Oh Festa!


Diná Fernandes


De onde venho?

Brilhante é vossa inteligência
Questionando minha origem
Não carrego tanta inclemência
Sou mãe de uma beleza virgem

Vivemos nos jardins, solitários
Meu espinho é defesa discreta
Rosa sem espinho é imaginário
Nossa união é quase perfeita

Como um pequenino botão
Sensível, mágico e inspirador
Se tivesse um coração
Doaria a um poeta pensador


Diná Fernandes


(clique na imagem para ampliar)

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