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sexta-feira, 28 de outubro de 2011

PEQUENAS GRANDES PÉROLAS!


* * * *

ODÉ COMORODÉ

Saudações, meu pai.
O rei de Ketu,
o orixá do mato.
Calado, quieto,
com seus adereços
dá o tiro certo
em todo mal feito.

Saudações, meu pai.
Ajude-me a encontrar
o meu caminho.
Sei que nunca estou sozinho,
por isso vim lhe procurar.

Oriente o meu muntuê
com a bênção de Oxalá.
Faça-me voltar para o rio
que me levará ao mar
de Iemanjá.

A. J. Cardiais
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* * *

Biografia

Se o espelho conservasse as imagens
Eu desfilaria sem roupas
por extensas paisagens
mas o espelho não tem memória.
Não retém o formato dos corpos,
tão pouco devolve o feedback
das histórias vividas.
Da aparência de ontem
nem a sombra,
Na dispersão dos ventos
nenhum oi.
No pequeno infinito
do espelho do meu quarto
cruzo as asas...
Ao descer a cortina
pinto a boca distraída,
Não sei porque fui esquecer
a senha desse acesso.
Só os trevos cultivados
em torno da retina
continuam a gravar
minha biografia.

Gladis Deble

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* * *


Auto-Sabotagem

A quem contenta-se em trair
Digo que é algoz de si mesmo
Cava a própria sepultura
Dá um tiro no pé, à esmo
Trai a si próprio
Sem dar-se conta
E quando percebe
A solidão monta
Ninguém de ninguém é
Mas perde tudo
Quem tudo quer

Célia Sena

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Oração poética

Que a esperança
continue a deslizar...
Suavemente poesia.

Que a alegria
acompanhe a segurar-se
firmemente durante a dança...
Equilíbrios de criança.

Que a inocência
continue a piscar...
Brilhantemente poesia.

Que a fantasia
acompanhe a recriar-se
constantemente em fluência...
Corajosa assistência.

Anorkinda

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* *


ALIANÇA

Espia o silêncio do eterno sono,
Espia, mas não incomode seu sonhar.
Repare no seu abandono,
Repare seu imóvel “se entregar”.
Já canta sua liberdade de aliança,
Deitado sobre o leito da confiança.

Ali, sinhozinho nenhum lhe alcança.


Amélia de Morais

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* *

Poesia vestida de noiva


O céu está lindo
E desfilando sorrindo
Lá vem a noiva
Com seu branco vestido

Hoje é o grande dia
A noiva é a poesia
Todos então percebem
Como é grande sua alegria.

O vestido hipnotiza
De tão áureo eterniza
Está impecável
O deslumbre dessa poetiza

Ela mais uma vez acerta
Desenha, escreve e faz a oferta
São poesias vestidas de noiva
Que nos deixam de boca aberta.

Um trabalho de estilista
E o tapete vermelho na pista
É o retrato mais belo
Da poesia com essa artista.

(Fábio Granville)

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* *

O preço da luz

Pelos labirintos da razão
a pessoa quase se perdeu.

Demorou para perceber
uma porta aberta, um vão,

entre a insanidade
e a iluminação.

Pela porta da verdade
a pessoa entrou,

estremeceu sem poder deter
o fio que tecia nova realidade.

Entre o que veria em emoção
e o que deixava de ser,

a pessoa sequer pestanejou
e seguiu sem o ego e sua metade.

Anorkinda

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Bordado de linhas soltas


Hoje algo me rói
e o claro da lua me mostra as sombras que guardei...
algo me rói
e o encontro foi marcado no Olimpo
tempo, tempo, tempo!
é tão doloroso este sentir dentro
tão interno quanto os ossos que doem em paz
A ousadia de amar-te me amplia
faz de mim, reflexo cego
cataclismo em cores a escorrer
algo me rói e rói fundo
a saudade do teu cheiro me suspira
e teu gosto explode no céu da minha boca
que saliva
o obscuro querer desmedido
faz de mim tão pequenina menina
a fingir-me de mulher
mesmo quando e se eu sumir
ainda me acharás no avesso
de ti...
naquele lugar
onde me guardastes por tantos anos
lembras?
algo me rói
e me borda novamente
n'algum ponto do infinito.

Márcia Poesia de Sá

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* *

PALETA ILUSÓRIA

Vento fez respingos azuis no prado.
Sobre tela verde uns pigmentos de anil,
que borda, caprichosa, a brisa de abril.
O sol hipnotiza, doura os tons azulados.

Cravos rubros, rosas louras? Que nada!
Olho; só descubro plantas campestres.
Margaridas elegantes; flores silvestres.
Pétalas brancas e violetas abraçadas...

... Paleta ilusória... Finge mesclar tintas,
que os raios do astro rei tingem no chão.
Imitam lápis-lazúli as corolas iluminadas,
qual bandeirolas agitadas pela viração...

Parece tirado da cartola de um ilusionista
esse quadro; feito lebre, salta aos olhos...
Ao prado multicor, não há quem resista.
Visão gravada na mente; virou monopólio.

Rosemarie Schossig Torres

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* *

Ama!Eia! Ia!.


Chuva na terra
é lama
Pele do peixe
é escama
Tarde de chuva
é cama
Choro sem lágrima
é drama

Casa de aranha
é teia
mamífero aquático
é baleia
a pista do sangue
é veia
O fundo do mar
é areia

Quando reina o sol
é dia
a irmã da minha mãe
é tia
o som da orquestra
é sinfonia
a maior felicidade
é alegria

Chamem os bombeiros
é chama
Idéia em prática
é trama
Roupa de dormir
é pijama
Encontro de amor pago
é programa

A luva dos pés
é meia
Cereal matinal
é aveia
Mulher com rabo de peixe
é sereia
O motor da bicicleta
é correia

Feminino de judeu
é judia
filhote de animal
é cria
brincar de carnaval
é folia
esperar pelo que se quer
é agonia

O alimento do bebê
é mama
A criada da sinhá
é ama
Animal de cordilheira
é lhama
O tapete do futebol
é grama

Choveu no rio
é cheia
Jantar de Natal
é ceia
A vida dos outros
é alheia
Lugar de bandido
é cadeia

Comparação metafórica
é analogia
muitos palavrões
é baixaria
treino de escrita
é caligrafia
ler este poema
é fria

O que eu quero com isso?
é fama?

O que achou da minha rima?
É feia?

O que acabei de escrever?
É poesia?

(Fábio Granville)

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Grande é o amor

Dono do tempo
ele vive no agora
e nada espera

Dono do gesto
ele age intempestivo
e nada prova

Dono da melodia
ele canta harmonioso
e sempre encanta

Dono da vida
ele atua no presente
e sempre se dá

Anorkinda

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EXPLICAR O AMOR


O amor não se explica,
Ele só se sente.
O amor não complica,
Ele é. Simplesmente.

O amor não se programa,
Ele chega de repente.
O amor não tem drama,
Ele flui. Naturalmente.

Anorkinda

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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

POETISA ROSEMARIE SCHOSSIG TORRES!



PRIMAVERA

Que chegue a primavera!
Ainda que manca de uma perna,
em pedacinhos de céu
ou pétalas dispersas
mas que venha...

Apareça esperada alegria!
Nem que seja miúda,
pequenas migalhas de riso
na boca de dias desdentados.

Estamos cansados deste inverno,
que nunca tira férias.
Devora nossos verões
e põe os sonhos para hibernar.

Com a alma grudada na janela
espero o raio de sol,
que derreterá o iceberg
de horas sem cor
e flores de plástico.

Rosemarie Schossig Torres

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SERRA AZUL

Ledo engano dizer que és azul.
É um equívoco nomear-te serra.
Já que, de fato, não passas de cerro,
ou uma pequena elevação, monte.

Teu anil só na linha do horizonte,
Onde o firmamento beija a terra.
Então, apenas sob o sol ardente,
É que as duas cores se abraçam.

Somente aí, verdejante serra,
Vemos que tens a cor do céu.
Será miragem, ilusão de ótica?
Ou apenas licença poética...

Rosemarie Schossig Torres

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POETISA ROSAMEL!



(CLIQUE NA IMAGEM PARA AMPLIAR)

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***Outra Boca***

Outra boca queres ter
pra que tamanho desejo
se a minha te lamber
muito mais tu vais querer
Não enganes a ti mesmo
dizendo tal disparate
não jogues nada ao vento
para que nunca te falte

Se a minha boca é louca
da tua eu posso dizer
quando vem assim tão rouca
só me faz enlouquecer
Podes crer eu não te engano
nem pretendo te enganar
não posso viver sem ti
muito eu quero te amar

E deixes de ousadia
para que tanta firula
te achegue aqui na guria
e sacies a minha gula.
Se um dia te insultei
foi por pura emoção
meu amor eu te matei
creio que foi de tesão

Sabes da minha loucura
e vê se não me difama
Tu és a minha cura
na beira da tua cama
Então abraça-me forte
deixe que eu perca o rumo
não sei nem do sul ou norte
mas em ti eu me aprumo.
by
***RosaMel***

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