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sexta-feira, 26 de novembro de 2010


PEQUENAS GRANDES PÉROLAS


* * * * * * *
NÃO RIO


Tantas balas achadas
entre os corpos perdidos
tensão nos fios do pensar
- não rio nem choro; pavor -

O vermelho tinge a tela
escorrendo pelas ruas
apavorados passos
presos em sítio absurdo

Asas metálicas voam baixo
armas gritam canto fúnebre
casas brancas abarrotadas
decoradas com tinta carmim

Tantos braços cruzados
inércia diante dos fatos
relatos de uma era prevista
caos instaurado; prenúncio
de um fim no ponto final.

(Lena Ferreira)


* * * * * * *
SÓ PALAVRAS?


Comovo-me com palavras dita assim
transparentes, suaves em toque interno
a despertar sentimento intenso e terno
de admiração pelo ser; princípio e fim.

Cada letra, sinto como carícia na alma
fala mansa, sussuro aos meus ouvidos
que avivam em mim todos os sentidos
deixando-me mais serena, mais calma.

Alucinam-me palavras dúbias, brutas
provocativas, quase alcançam o intento
razão alerta a alma; quando as escuta
é simples; deixa-as irem com o vento.

Palavras não são palavras apenas; não!
cada qual atiça um tipo de sentimento
importa é dar a cada uma a dimensão
exata, para evitarmos constrangimento.

(Lena Ferreira)


* * * * * *
Ser vidro

Cansa-me em absoluto tal pessoa
Sentimental, por sua conveniência
Mas a sua palavra sempre magoa
E disfarça, com cabal inocência..

Pronuncia o verbo com maldade
Sem se valer do nosso sentimento
Além disso, fala da nossa amizade
Como se houvesse um juramento.

Se revidarmos, se faz de agredida
Desfragmenta poe se a despedaçar
Finge, ludibria e se sente partida.

Sempre perfeita e correta a tudo
E ainda tenta nos fazer culpados
Ser vidro: ternos e dissimulados!

ღRaquel Ordonesღ


* * * * *

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* * * * *
SENTIR

A terra viverá em harmonia
Quando houverem sons correndo o ar
E quando nossa estrela se apagar
A dissonância será fogo a se alastrar

Qual fogo vivo como um cometa de cor
Toda criança viverá dentro de nós
E a amizade o carinho e o perdão
Serão vitórias conquistadas pelo amor

Por esse amor já valerá a pena
Toda mudança em um mundo sem fronteiras
DEUS sorrirá espargindo a alegria
E a vida então; será uma vida por inteiro!

NICE CANINI


* * * * *

Suspiro sim.
Não nego que suspiro por você.
Que sonho contigo sim.
Não nego que sonho com você.

E se meu coração bate acelerado
A culpa é sua.
E se minha barriga sente arrepio
Você é a responsável.

Eu não estou reclamando menina
Queria te cobrar todos os dias
Esse arrepio na barriga, esse coração acelerado,
Meus pensamentos e sonhos por ti.

E eu tímido poeta
Falo eu te amo baixinho
Só pra mim, não para o mundo.
Desculpa, sou egoísta.

Devia gritar, gritar ao mundo
Que eu te amo, que eu te quero.
Mas sou tímido
E falo baixinho pra mim mesmo.

Suspiro sim.
Ah... não nego que suspiro.
Sonho sim.
Ah... não nego que sonho contigo.

(Rod.Arcadia)


* * * * *
Paixão no corpo

sabe os poros do meu corpo?
eles estão apaixonados
vertem humores e suores
luzes e sois

sabe a pele que me recobre?
ela está alucinada
arrepia calores
constelações

sabe os lábios de meu rosto?
eles estão desesperados
desejam sabores
abluções

sabe a lascívia que me invade?
ela está açulada
desafia sensores e cores
corpos e lençois

Anorkinda


* * * * *
A quem se responde?.

A quem se destinam as respostas prontas
ou mesmo aquelas previamente digeridas?
A quem enganamos a cada frase imposta
e em toda sílaba vazia facilmente proferida?

A quem se responde com graça e leveza
as hipocrisias mais burras e fingidas?
A quem provocamos quando à mesa
as intenções são claras e desinibidas?

A quem se priorizam as definições
e os arremedos de boa-vida?
A quem importam as razões
se abrirmos a ferida?

Anorkinda


* * * *
O FARO DO CIÚME

É aleijado
o faro do ciúme
Ele troca
o certo pelo errado

É perturbado
o faro do ciúme
Ele evoca
as sombras do passado

É desritmado
o faro do ciúme
Ele toca
num compasso desregulado...

Um fado desesperado

Anorkinda


* * * * *

TRADUÇÃO

Busco abrigo no teu corpo
para fugir das amarguras.
Com os teus beijos
eu me embriago e esqueço
das topadas e dos tropeços
que eu dei pela vida...

Eu não queria jurar esse amor.
Eu não queria marcar essa aflição
e nem queria te passar o tormento
que vive no momento
o meu coração...

Eu queria só tomar
o meu café com pão...
E sentir-me feliz
depois do sol...
Eu queria esta luz
que me faz ouvir
e carregar minha bandeira:
Um lençol.

Eu queria pela noite
e madrugada
te encher de amor e fantasia.
Eu queria a liberdade
que minha alma pede
e traduzi-la em uma
Poesia.

A J Cardiais


* * * *
Re[leitura]!

O Universo é impermanente,
com suas galáxias e seus sóis,
seus planetas e estrelas...

O corpo humano, microsistema
do Universo, também é mutável.
A cada respiração, nova circulação.

No DNA está contido esta mutação,
tanto no DNA do Cosmo, quanto do Ser,
milimetricamente organizado a mudar.

Assim nossos conceitos são renováveis,
paradigmas interiorizados e encrustrados
devem ser modificados na hora certa...

Há um tempo de maturação e sabedoria
Em que o ser descobre-se falível...
Aí aguarda a conspiração do Universo.

O renovar-se é como a fruta verde,
que saboreada fora da época trava a boca...
Há tempo e lugar para nossos aprendizados!

Godila Fernandes


* * * *
Chaga Aberta!

OH! meu grande amor
se eu pudesse ser a estrada
Que me leva a voce, seria sempre assim
Cada vez mais voce em mim!

Como vou achar seu riso seus mistérios
Se a distância é constante dor
A nos levar
Pros caminhos do desamor?

Não se esconda desse meu desejo
Pois todo querer tem uma ponta de tristeza
E não seria amor, se não houvesse em nosso amor
Tanta grandeza

Te busco com paixão, não tema!
Pois todas minhas trilhas te pertencem
E todos os meus sonhos tem endereço certo
Residem na ilusão de ter voce mais perto!


Nice Canini



* * * *
Esperança

É otimista ,nunca é vã
Expectativa de sonho
A fantasia do pote de ouro
No final de um arco-íris
O esquecimento fugaz
Do que possa parecer tristonho

Como um ser que nasce
Uma flor que desabrocha
Numa realidade um tanto hostil
Há sempre o refrigério da esperança
Como um prenúncio da bonança


Eliane Thomas


* * * *
PARCERIA É TUDO DE BOM!

Acho muito bacana ler meus amigos(as)
me sinto, deveras orgulhosa
por estar nessa amizade tão gostosa
e quando eu os convido,a divagar comigo...


É porque sei, que suas inspirações...
irão voar nas asas das emoções
pois,embora não conhecendo(a fundo) seus corações...
somos amigos, e entre nós,(na poesia) não há limitações!


Não existe nada mais bonito
do que amigos em comunhão de ideais
é um momento tão bendito...
escrever com os parceiros virtuais...
chegam a se tornar reais!


VALDILENE D M da SILVA


* * * *
VIAGENS

Daqui, do alto dos meus olhos
acompanho o passar do tempo

Lento, na solidão
Veloz, na paixão

O coração não dá sossego
acelera, acelera, acelera...
...aquieta, aquieta, aquieta
no apego e no desapego

Daqui, do alto dos meus olhos
não abro mão do passatempo

lágrimas na separação
brilho na conjunção

o coração é coragem
não teme a faca afiada
não teme o silêncio e o vazio
se entrega a toda viagem

Daqui, do alto dos meus olhos
tudo vejo e nada falo, fico atenta.

Amélia de Morais


* * * *
BARULHINHO

você precisa dizer isso
verso indiscreto?

não basta ser
a corrente magnética
de fluir abissal?

de dentro para fora
toda palavra é mantra
que espalhada ao vento
rui desigual

haja ouvido que leia
tua forma abstrata
e quem tem boca fale
ô verso indiscreto...
ô verso indiscreto...

você precisa dizer isso
assim tão coloquial ?...


Nina Araújo


* * * *
Amor Irreverente

O amor é uma porção acesa
Encerra em si um brilho refulgente
Não se basta sozinho, busca sua presa...
Uma metade que o encante!

O amor é um fado cobiçado
Quem não gostaria de tê-lo?
Há coração que não sabe ser amado,
É que síndrome de posse, difere de zelo ...

Ah!.... Este amor que me consome e afoga
Que some e aparece sem que eu perceba
Que num piscar de olhos sempre me logra
E que me envia amores sem que eu receba.

Que fazer com este amor tão irreverente
Que diz ser livre como o vento e atento
Se fazendo na minha vida tão presente
Mas caminha sozinho com o passo lento.


É mesmo um grande amor incandescente
Que se apossa tomando conta do nosso ser
Que brilha e que queima a alma da gente.....

Diná Fernandes & Rosamel


* * * *
Minha criança

Sou mulher
De encantos
E desencantos
Rompi o véu
Da infância
E conservei
A criança

Sofrimentos
Eu passei
Tormentos
Eu vivi

Alegrias
Algumas senti
Invejas, ciúmes,
Provoquei.
Ternura
Um pouco experimentei.

Traições
Eu sofri.
Mentiras
Vivi, descobri,
Mas não menti.
Humilhação
Eu senti
Esperança, então,
Perdi.
E, perdendo a esperança,
Perdi a criança.

Foi então,
Que, ao te encontrar,
E, passando a te amar,
Tentei
A esperança recuperar...
Recuperando a esperança,
Renasceu minha criança.


Jane Moreira


* * * *
METADE DE MIM QUE ARDE

Nas vezes em que anseio o verso
impeço-o de andar ligeiro
o mote faz tudo que peço
maior do que um braseiro

Preciso tapar os ouvidos
quando ele traz novidade
nem sempre quero alaridos
para versar a verdade

metade de mim que arde
na astúcia dos poemas
vem dos receios que nego
quando os versos tem dilemas

(e ainda assim eu grito
com a acústica modulada)

um pouco para ser ouvida
pela minh'alma entocada.
um pouco para ser valente
e não ter medo de nada.


Nina Araújo.


* * * *
Memórias da Guerra (Parte I)

Prólogo

Em meio a fumaça cinza com um toque avermelhado
Em baixo de um céu que é testemunha
Vejo ferros retorcidos, destroços
Vejo corações calados, que gritam
Vejo o tempo congelado.

Em meio as ruas esburacadas
Vejo pertences abandonados
Abrigos
Vejo um rio frio
Rio de cartuchos que tiveram seus projéteis deflagados
Todos com nomes, um objetivo
Calar um peito inimigo
Um corpo latente a ser alcançado
Silenciando-o
Roubando-lhe sonhos.

Como o corte de uma navalha
Como quem tira o doce de uma criança
Como quem tira o amor e a esperança
Em troca de uma medalha.

André Anlub


* * * *
UM NOVO POEMA ?

Um novo poema
e as estrelas antigas.

Um novo poema
e lá está eu,
no galho da mangueira.

Uma novo poema,
a velha saudade...

Um novo poema,
meu entardecer com cãs.

Um novo poema,
os velhos sonhos na estrada.

Um novo poema,
o meu azul encardido.

Haveria mesmo
um novo poema?

DANNIEL VALENTE

.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010


JOGUE AO VENTO




É na melhor idade que sabemos o que queremos,
Mas qual é a melhor idade?
É aquela que pensamos ter.

Godila Fernandes, Mavie Louzada e MazehLage

......



Quando o ar da noite chega
Trazendo uma paz tão serena,
Rebusco lembranças tuas, mãe amada!

Ana Maria Marques, Telma Moreira, Godila Fernandes

......



Vá a fonte dos desejos e jogue a moeda
Sua vida vai florir... sua vida vai mudar...
Não deixe de pedir...Não deixe de sonhar.


Godila Fernandes, Mazeh Lage e Jane Moreira

........


Quando o inverno da vida chegar,
que em seu coração a primavera seja eterna
Em manto perfumado de dois amores .

Jane Moreira, Godila Fernandes e Ana Maria Marques

........


Ele ressuscitou uma flor
E deu-lhe a força de mil pétalas,
Que sustentaram a beleza do momento !

Ana Maria Marques, Godila Fernandes e Mazeh Lage

......


Beijo as mãos da sorte...
Já que o amor nada me tem
Sou uma semente sem germinar .


Mavie Louzada, André Fernandes e Ana MariaMarques

.........


A borboleta travessa majestosa
desfila sua asa transparente,
e desaparece contra o brilho do sol poente.

Ana Maria Marques, Amélia de Morais e Godila Fernandes

........


Em pleno crepúsculo primaveril
Ela, feito flor, para o amor se abriu
E rendeu-se aos encantos do ocaso.

Godila Fernandes, Jane Moreira e Mavie Louzada

.........


Num sonho adolescente e principesco, há um penhasco bem a frente,
Nesta hora , chorei o choro dos amantes
Nenhuma brisa enxuga essa lágrima...

Godila Fernandes, Ana Maria Marques e Telma Moreira

......



Gostosas brincadeiras atiçam a atmosfera
radiante dos jovens apaixonados e felizes
Como crianças que não temem a felicidade!

Anorkinda, Godila Fernandes e Mavie Louzada

.......



Fiz do teu corpo a sombra da minha vida,
esqueci de viver a minha própria sombra,
e ela se perdeu entre curvas e desvios ...

Ana Maria Marques, Godila Fernandes e MazehLage

........


No final da união, carruagem vira abóbora atrelada a ratinhos,
mas os ratinhos de força, já não tem a força que a união pedia
...E lá se vai outra fantasia! Acorda, já é manhã...

Godila Fernandes, Luiz Carlos do Valle e Telma Moreira

.........


Unidos, de par em par, somos a maior energia do Universo,
Unidos de verso em verso, criamos asas ... Somos poesia
Dádivas criadas, somos todos elos de compaixão!

Godila Fernandes, Mavie Louzada e Anorkinda

..............



Queria que fosse vulcão
A transbordar a lava da paixão.
Enquanto era, foi... Virou cinzas!

Amélia de Morais, Anorkinda e TelmaMoreira

.........


E a doce avezinha caída no asfalto ficou
Encontrada por um menino que dela cuidou...
Feliz, uma tarde, a avezinha pra longe voou!

Godila Fernandes, Anorkinda e Jane Moreira

......

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terça-feira, 23 de novembro de 2010


 POETA ÂNDERLO STRWSK



A tez dos meus


Ando um tanto mal iluminado.
Deve ser pela parca e distante luz dos teus olhos
que costumavam me guiar na insensatez dos meus poemas.
E que hoje, mal são vistas pelos escuros que me envolvem.


Ando um tanto mal interpretado.

O sentido que carrego exercendo a tez dos meus versos se
perde no que não costumo dizer.

E se se mostra um vasto intento, pardacento, é
por serem assim mesmo os desígnios poéticos.

Hoje eu entendo, ando um tanto mal
visto por quem não me vês,
e não vês que não me tens lido, e acho normal
se me tu não lês.
Mas sinto que não faz sentido sentir, por isso, tanto. No
entanto, triste assento:
Em mim, ando-me um tanto mal.


A.R.S.




Rosa


Caio........na......rua..... e
esqueço a chuva que
antes, por aqui, tudo molhou
caio e detesto o chão úmido
mas a queda é um começo
para levantar-me 
outra vez[green]
vês?
Não?
Mas
Creia.
Eu
Sou
E
Sei
Ser
O
Todo
Que
.Precisamente me sustenta nessa vidA.

A.R.S.

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segunda-feira, 22 de novembro de 2010


PEQUENAS GRANDES PÉROLAS!


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* * * * * *

VEM!

Vem! não deixes que eu escorra entre seus dedos
Vem me amar porque eu tenho medo
Que com teu parco amor ,tão em segredo
Me deixes escapar, inda me percas

Vem desaguar em mim sua luxuria
Antes que o dia vire noite escura
Não vês que eu te amo ; então não sabes
Que morro um pouco em mim nessa procura?

...E esse amor que em dores transformastes
Um rio que agora é oceano
Clama por ti e grita em desvario
Vem me fazer feliz, porque te amo!


NICE CANINI


* * * * * *


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* * * * * *

Apenas Posso Te Amar

As palavras de quase nada me valem.
E contar-te dos meus desejos é pouco.
Que as ternuras que eu te dei, falem...
Desse amor que me perturba; louco.

Turva essa paixão; pudera ser elixir;
curativo para o teu coração partido...
Tudo faço para ver-te outra vez sorrir
feito criança; mandar a dor ao olvido.

Queria dar-te a paz; não a tenho mais.
Perdi-a indo a deriva desse teu olhar.
Tua alegria é prece; razão de meus ais.
Se eu pudesse! Apenas posso te amar.

Rosemarie Schossig Torres


* * * * *

Enfeites

Sou lua plena; noite serena
No escuro do eu
Laço de cetim
Sou tudo aquilo que criei pra mim

Não me arredo
Nem me arrendo
Sonho até
Mas sempre caio de pé

Finco beleza
Onde impera a ingratidão
Sou o não
Sou coragem transformada em coração.

Digo não! a dor e ao sofrimento
de ter existido num remoto tempo
De um planeta negro
Sou um breve aviso
Apenas de passagem
E enfeito a vida com um sorriso.


Nice Canini


* * * * *

CLASSE PO(ÉTICA)

Uma poesia nobre
Habita um castelo de versos
Cercado de rimas ricas
Com grandes e brilhantes medidas
A inspiração flui do sangue azul

Uma poesia classe A
Vive numa mansão gramatical
Mobiliada com palavras de ouro
Cheia de cristais de reflexão
Desfilando em traje de gala
Sobre as linhas do tapete vermelho

Uma poesia classe média
Perde-se entre uma sílaba e outra
Morando numa casa confortável
Na rua das entrelinhas soltas
Veste o nome da etiqueta
E vai mantendo o juro do cartão

Uma poesia pobre
Cobre-se com temas rasgados
Dentro de uma casa de letras
Vazia de sentido e direito
Sem notar o buraco na telha

Uma poesia...
Mendiga pelas ruas
O papelão é casa, roupa, cama
Come sobras de letras, sílabas
Palavras, versos
Mas vomita um poema silencioso
Ah, poeta miserável
Calaram sua boca de novo!

Janete do Carmo


* * * * *

Preconceito Racial

Tenho massa cinzenta,
tenho alma,
e sou capaz.

Meu sangue,
também é rutilante.

Meu arcabouço,
não difere dos demais

Minha carne,
também apodrecerá
igualmente a de todos.

Meu cabelo é encarapinhado,
é natural, e dele
não me envergonho.

Sou negro!
Sou autêntico!

Diná Fernandes


* * * * *

A Primavera


Eu contei as pétalas de rosas no chão,
Contei os dias que me foram perdidos,
Os dias que você segurava minha mão.

Eu lembrei das pétalas de rosas que caíram,
Dos dias que elas caíram em mim
E os dias que outrora lembrava de você.

Ai de mim que contei meus poemas
Numa folha de papel pão
E que me demonstraram tamanha tristeza.

O outono se foi e junto com a estação
Deixei de contar meus poemas de saudade,
E agora contarei meus poemas de triunfo
Para anunciar a entrada da primavera.

(Rod.Arcadia)


* * * * *


Num espelho d"gua um rosto apareceu
E a vida em volta então emudeceu
Com os cabelos brilhando ao luar
A mãe da noite pois-se a cantar

E o canto altivo vívido e latente
Era um chamado às fadas e duendes
Que num silêncio feito luz na serra
Reverenciavam a doce mãe da terra

Então o céu se fez jardim de flores
E a bondade se espalhou no mundo
Sanando vidas e sarando dores
Cantava a mãe a salpicar amores

Do espelho d"gua com o lindo rosto
Surgiu a vida em toda sua beleza
E a voz maviosa que encantava as fadas
Pedia em cantos à todos os viventes
Paz e respeito pela natureza!


NICE CANINI


* * * *


De volta às paredes

Conversei com as paredes nos tempos da delicadeza.
Lembro quadros pendurados de ternura e beleza,
Noites infinitas, chuva lá fora, fogo no fogão...
E as paredes...
Volto a esses momentos
Das noites de tempestade...
Fujo da hoje realidade...
Quero rever os quadros, alguns são de meu rosto,
Pendurados nas paredes...
Não, não é tristeza.
É saudade, melancolia...
É a melodia
Dos assobios que o silêncio gerava
Da inquietude juvenil que esperava
A tormenta passar...
Horas a conversar,
Às vezes assobiar,
Nossos olhos grudados,
Nos quadros
Das paredes...
E, hoje, voltando ao passado,
Do sonho realizado,
Sinto que a melodia
Tomou dimensões de sinfonia;
A parede acolhedora
Tornou-se a Mãe Protetora.
Respiro a nova Luz
E volto ao tempo da delicadeza,
Do fogão a aquecer,
Da tempestade a temer,
Das paredes a namorar,
Esperando a chuva passar...
E o espírito criava autonomia
E ia buscar o hoje,
Que volta no olhar
Que deixei pendurado na parede.

Jane Moreira


* * * *

Transmutação


Fui pedra.
Fui onda na rocha.
Sou o mundo que inspira.

Estou longe,
Às vezes bem perto de você,
Tocando de leve sua pele.

Muitas vezes fui uma flor
Que a abelha utilizou para criar seu mel,
Fui à folha que desabou no outono.

Ah... fui o medo de não tentar,
Fui o medo de não me calar
E de não percorrer certos caminhos.

E a coragem, esse sentimento,
Sempre bateu em minha porta,
Dando-me um viva, um olá,

Tocando no ombro e dizendo: “Vá, estou aqui.”
E eu correria, cheio de energia,
Porque a coragem iluminaria meu ser,

Correria, com as forças do vento,
Com os pés de asas e o medo bobo
Trancava-se no seu castelo de areia.

E nessa transmutação, eu sigo,
Na velocidade de um cometa,
No mundo que inspira.

(Rod.Arcadia)


* * * *


MEU PÃO

minha poesia nasce
como fornada
na mão do dia

desde os quatro ela assa
tamanha é a fome

não é brioche,
nem croissant
é pão caseiro
receita de vó gaúcha
(sovado ao natural...)

algumas vezes é temperada
com todo sal da cumbuca

mas quando acerto
Ah...ela é uma cuca !...


Nina Araújo


* * * *

Desejos

Mais profundos escritos
Aflora a pele a deflora nua!
A flor dos desejos pós, ditos
Nuances e contornos que sua.

Alimenta a pobre mente
Fogoso e faminto garboso
Que de fato vem contundente
Do indecente escritor brioso

Não é fato tal elegância viril
Do mais Bocage ser notável
Nem do personagem ser gentil
Aqui saliente e inabalável

Desejos escondidos nas linhas
Entre inspiração do mais banal
De o poeta ser nas entrelinhas
Implícito verso e explicito cabal

André Fernandes


* * * *


Por outro prisma

Qual a minha cor?
Sou da cor deste instante
Carrego os tons de tudo o que vivi
E serei ainda, tingida no por vir distante

Às vezes sou desbotada
Quando desando, desanimada
E há dias de cor vibrante
Quando feliz, sou da vida amante

Posso ser preta como jabuticaba madura
Branca como iceberg que flutua
Branca, no branco dos olhos
Negra como noite sem lua

Sou de todas as tantas cores
Preto, branco, azul, vermelho, verde, lilás
Sou arco-íris, aquarela, tanto faz
A cor de mim é o instante quem traz

Célia Sena

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