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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

PEQUENAS GRANDES PÉROLAS!


* * *
ENTE QUERIDO

O sol acorda as calêndulas,
enquanto o café acorda a gente.
Essas coisas são desde antigamente,
quando meu pai saia para o roçado
e a molecada fazia fila para ganhar afago.

Da porta da cozinha para fora
o mundo cresce e dá na horta,
que oferece o necessário
para o sustento de tantos seres.
Isso vem de longe, quando minha mãe
fazia broa de milho e cantava junto ao rádio.

Hoje há um muro pintado de azul,
mais azul até que o céu dos meus sonhos.
A cerca não serve mais, pois lá fora há fereza.
Coisas que o tempo colheu, como se colhe cebolinhas
plantadas em bacia que não serve mais para o uso.

A gente cresceu, os problemas aumentaram,
o quintal ficou preso... sem poder papear com a rua,
que tem asfalto, correria e assalto.
Isso é paga do progresso, rangendo os dentes
para a gente, esfumaçando o cenário bucólico
e lembranças da geléia de goiaba vermelha.

Mas a magia e alegria não diminuíram.
Domingo, todos reunidos na mesa de madeira de construção,
vem a sensação que nosso quintal é um ente especial.
É coisa de muito tempo, desde quando agente
brincava de folia até que o sol saísse
e as calêndulas adormeciam no quintal.


JULENI ANDRADE

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* * *

ÓBVIOS


Por que promover o mal?
Não vê que é uma semente
e que o fará multiplicar
em seu próprio quintal?

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Plantei
uma semente
de misericórdia
em meu coração

brotou
cresceu uma árvore
gerou frutos
milhares de sementes
que agora espalho
pela multidão

É árvore prodigiosa
Floresce o ano inteiro
Independe de estação

Como teria dito Jesus
"Para extirpar o mal
basta ascender à Luz".


LCPVALLE

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* * *
CRESCENTE

Um amor ínfimo,
vagando no átimo,
quase despercebido,
do tamanho de um grão.
foi tomando corpo,
ocupando espaço,
se expandindo para
todos rumos; comendo
fermento se alastrando
por paredes e muros,
invadindo países,
cobrindo rios, riscos,
entre carinhos, deslizes,
preenchendo o vácuo,
empurrando nuvens,
subindo em torres,
escadas, escalas,
amor crescente,
maximizado,
como nunca se viu,
no decorrer da história,
em jornais, estantes,
na anatomia do Brasil.

[gustavo drummond]

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* *
Distâncias!.

Eu toda em ti,
tu todinho em mim,
selados no amor,
fascinados no olhar,
abafados no medo,
de perder-nos...

em mim, a angústia,
de te ver sumir,
em ti a tristeza,
de achar que fingi,
em nós este amor latente,
de ilusão sufocante!

Hoje calados olhamos
a distância tão pequena
e ao mesmo instante,
tão aterradora...
no medo de perder,
perdemos...
no medo de fingir,
agora fingimos,
este amor indiferente!

Godila Fernandes

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* *
Nós

E se tudo acabar
Ainda assim não serei só
Depois de tanto haver amado
Restar-me-á ainda um nó
Um nó de lembrança
Tal qual o que se amarra em fita
Para lembrar o que não se pode esquecer

Será um nó vagabundo
Vagando pelo meu mundo
Que será meu eu ateu
Ateu, por perder a fé ao perder-te.

Restar-me-á um nó
Que preso à garganta
Será sufoco e soluço convulso
Preso aos olhos
Será lágrima vertida
Preso à alma
Será saudade sentida

E se a hora chegar
Restar-me-á esse nó
O que ata-me a ti
Porque é cego
E sendo assim
Meu coração irá contigo
E o teu ficará comigo
E mesmo que distantes
Tu e eu seremos nós.

Célia Sena

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* *
MATRIZ
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E brinco de roda, contente
giro sem sair do lugar
feliz menina
sonho, sonho, sem parar
cabelo ao vento
pés no chão
riso sincero
indecentemente puro
fértil imaginação
durmo no claro
danço no escuro
medo e timidez
quem diria que dançaria no claro?
quem?
Fecho os olhos
finjo que brinco de roda
no escuro
mulher feliz
mãos ao vento
ventre no chão
finquei raiz
matriz

Amélia de Morais
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* *
Mácula

Desnudada
a alma ia livre
ao sabor do vento

Liberdade
a vida corria
no galope do tempo

Mácula
a alma sorvia
dissabores e lamentos

Vítima
a vida ia trôpega
em apelo estrangeiro

esvaindo à míngua, o momento.


Anorkinda

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* *
Vozes Da Alma

Célere, entre meus dedos, às avessas,
escorre, sem se deter, o tempo de areia,
a se desprender das mãos, antes cheias.
Para que ampulheta, tens tanta pressa?

Tênues agulhetas de cristal, os ponteiros.
Garoam os números sobre minhas idades.
Palavras se acumulam, pintam realidades,
que se escrevem na alma com seu tinteiro.

Encharcam feito uma chuva fora de hora.
E em acelerado passeio comem espaço.
Num volteio me invadem passo a passo.
Encardem e os relógios não as devoram.

Ficam na memória essas vozes da alma.
De lá fluem histórias que nutrem versos.
É manancial onde busco achar a calma.
Caminho leal entre rumos controversos.

Rosemarie Schossig Torres

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Um comentário:

JOSENI LIMA disse...

QUE MARAVILHA!!
ADOREI TUDO QUE VI AQUI!
ESPERO TUA VISITA!!
UM ABRAÇO!!