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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

PEQUENAS GRANDES PÉROLAS!


* * * * *

SENDO

Se não fosse isso
seria aquela porta que dormiu
-desperta-
seria aquela grade que acordou
-alerta-
seria aquela cama que queimou
-coberta-
seria mais um caso de consumação

Se não fosse isso
seria aquela moça que partiu
-quebrada-
seria aquela outra que subiu
-escada-
seria mais um caso de exasperação

Se não fosse isso
seria outra coisa; coisa nada
-pouca-
seria outro grito na garganta
-rouca-
seria o que seria e sendo que
seria
seria, o nosso caso, de separação

(Lena Ferreira)


* * * *

ENTRE O CHAPÉU E O SAPATO
.
Sigo cantando
e plantando sementes
Sigo dançando
cada sol nascente
entregando meu sorriso
buscando mão amiga
ando meio sem juízo
sem o verso da cantiga
mas sigo voando
entre sonhos e fatos
entre o real e o teatro
entre a língua e o palato
entre o chapéu e o sapato

Amélia de Morais



* * * *

Lendas


Eis que me vê velejando em areias desertas,
Tateando muralhas invisíveis nos olhos de sol.
Eis que num grito, um camaleão cruza seu rabo na perna.

Vejo lendas que dançam no subconsciente de estrelas,
São feras, femininas, são brutas, são preciosas,
São bestas, são masculinas, são diamantes.

Que em quimeras calmantes aliviam decepções
E rodopiam como dragão chinês, como o curupira,
Eles dançam num carnaval sem batuques, sem devaneios

Pra celebrar paixão de Colombina.
Ah, lendas, elas nascem nos olhos fantasiosos da gente,
Camuflam feito o camaleão arco-íris


E deitam nas areias da nossa mente.
Aí vou eu, capitão dessa miragem,
Navegador do deserto flutuante, dragão que cruza o céu,
Centauro que flecha estrela cadente que cai no mar.

Vou velejando em lendas camaleônicas,
Em doces luas cheias, rastejando num velho cetim,
Sou a lira triste da velha rainha...

(Rod. Arcádia)



* * *

MILAGRE

Do pouco que sou
Entrego a metade
Pois a outra parte
Já não vive sem você

De tudo que tenho
Entrego a totalidade
Uma gota de toda lágrima
O calor do meu verão
Para o frio eu dou o lenho
Para a dor, o madeiro
E dinheiro?!
Bem, esse não tenho

Do amor que tenho no peito
Entrego cada pulsar
O perfume da rosa no leito
O sorrir e o cantar

Entrego meu dia desde o amanhecer
A noite já é sua, meu sonho é você
Se for para uma felicidade eterna
Entrego minha existência terna
Para em você sobreviver

E, também, se for preciso
Pouco, muito ou tanto
Faço verso, faço canto
Faço pra mim, faço pra você
Tudo em dobro, portanto
Só pra poder receber
O milagre do seu sorriso

Janete do Carmo



* * *


Não! Não me chamo Torquemada!


Quem me pôs na mão
O martelo do juiz?
Como posso julgar
Atos alheios
Se, eu mesma,
Carrego meus crimes
Ainda sem julgamento?

Quem deixou comigo
O látego do algoz?
Como posso castigar
Um igual
Se, eu mesma,
Trago bem dentro de mim
Tantas razões
Passíveis de punição?

Quem me imputa
Direitos de inquiridora?
Como sentenciar um humano
Quando, eu mesma,
Sou uma criatura
Tão cheia dos
Próprios pecados?

Ademais...
A quem interessa
O julgamento?
A sentença?
A punição?

Não será minha
A mão que pune!

Deixem-me livre
Para errar meus erros
Para acertar meus acertos
Para amar meus amores.

E viva,
Viver a liberdade de
Não apontar o dedo!

Arabela Morais

* *


Solidão de poeta

Clamo a vós
ó doces musas
que embriaguem-me

da luz inspiradora
da alegria, da poesia
da arte criadora

Um brado por auxílio

Ao poeta em seu exílio!


Eliane Thomas


* *


(clique na imagem para ampliar)


* *

POESIA
.
A essência
com que perfumas
a minha mão
é o que preciso
pra seguir versando.

Amélia de Morais


* *

Meia noite

Meia noite...
E mais meia, uma, duas, tantas horas!
Até que a noite leve a lua embora
E tristes, as estrelas vão ficando nuas
Sem o brilho das horas que fui sua!

Meia noite...
Junto, a saudade de tantos encantos,
Das horas em que nos amamos tanto
E elas se iam dóceis, sem percebê-las
E seu olhar me despia última estrela...

Meia noite...
Mais um minuto a mais, queria mais
Uma vez, depois que diferença faz?
Se após meia noite, serão novos dias,
Que virão sós, sem aquela magia!

Telma Moreira


* *

Andanças

A ti, de mãos cerradas me ofereço
Perdido nas andanças dum começo
Em mim, ceifado o laço da esperança
Por te não ter no verso que me cansa

Eu sinto o fel no gosto da lembrança
Recordação dum céu que não avança
Um tempo em que de mim eu era avesso
Eu era a dor dum tolo recomeço

Eu quero ter de novo a melodia
P'ra dançar como nunca eu poderia
E busco em tuas rimas teu abraço

Pois eu nas tuas linhas me desfaço
Acho o rumo, a cadência do meu passo
Oh! Dama da sublime fantasia

Alexandre de Paula

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