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terça-feira, 18 de janeiro de 2011


PEQUENAS GRANDES PÉROLAS


* * * *

O AZUL

O azul...
doce viagem
coragem
sangue dos nobres
cofres encantados
mundo infantil
pensamentos a fio.

O azul...
poemas de Neruda
pedra no caminho
Quintaneares
novos ares,
Drummond.

O azul...
acorda a Coralina
os becos de Goiás
estrelas das manhãs
pasárgadas...Manuel Bandeira.

O azul...
que só me remete à poesia
a viagem (de Cecília)
e nós...anônimos, no cais
esse azul, que é lilás.

Danniel Valente


* * *
PEQUENEZ

Diante da amplidão do universo,
sinto-me como um bonsai discreto,
miniatura de mínimas proporções,
um cisco, um átomo, um grão apenas,
solitário e curto verso,
pouco, mas completo,
minúsculas interrogações,
uma só rua de Atenas,
único filete d'água turva,
inseto invisível a olho nú,
uma maquete de curva,
filhote prematuro de anú,
ponto que não se vê,
agulha na floresta,
fonte de letra que não se vê,
anão entre gigantes,
a menor de todas frestas,
milésimo de segundo,
milímetro de futuro pó,
menor bactéria do mundo,
reconhecendo seu espaço,
se conhecendo passo a passo!

[gustavo drummond]


* * *
Ah...se fosse

Se cada nota ouvida
fosse um carinho
ou um beijo

Se todo verso cantado
fosse um abraço
ou um afago

Ah...se fosse assim
se a música
substituísse
a presença...

Se ao contrário

Todo olhar apaixonado
fosse um novo tom
ou uma melodia

E todo sonho bom
fosse uma canção de amor
ou uma afinada cantoria

Ah...se fosse assim
se o prazer
invadisse
a cena...

Anorkinda


* * *
Antes só...

Dei a quem não merecia
O que, de melhor eu podia
Meus melhores anos
Minha toda alegria

E tudo foi pouco
Porque o amor, que era ateu
Pouco a pouco se fez à toa
E pela falta de fé, morreu

Dei os pêsames ao viúvo
Segui sem olhar pra trás
Sem voltar a ser aquela
Sem aceitar poucas querelas

Não apedrejo ninguém
Agradeço e digo amém
Reconheço, felizmente,
Há males que vêm pra bem

Rompeu-se invisível grade
Que tolhia a liberdade
Hoje, sou de mim, senhora
Minha vida comemora.

Célia Sena


* * *

Os meninos do mundo.

São tantos os infantes,
tantos meninos bons,
tantas crianças tristes,
tantos dependentes...

São a solução da matrix,
para desespero dos pais,
meninos de boa índole,
levados pelos demais...

Corra menino levado,
brinque com seu estilingue,
comece pelos passarinhos,
o teu amor, nunca ódio...

Não deixe que o vírus da guerra
corrompa tua mente sadia...
Deixa pra trás armas brancas,
aproveita do bolo, a fatia!

Anda menino, brinca, corre com teu pião,
Lindas lembranças ficam da rua e folguedos,
brinquedos de gurizada: polícia e bandido,
que a matrix torna verdade e mata teu irmão.

Anda criança levada, coloca o mundo no bolso,
Coloca o sonho de amor em teu coração...
Volta homem à casa, sem manchas, corrupção,
deixa pra traz as domas de teu patrão. Matrix!

Godila Fernandes


* * *
Indecifrável

No espelho me busquei...
Logo num enigma esbarrei.
Enleei-me;diálogo de esfinge.
A imagem não decifra, finge...

Conclusão: quanta bobagem!
Alma vai bem além da miragem.
Sou mais que esse reflexo frio!
Vidro sem nexo; lampejo vazio.

Ah! Já sei! Sou a mãe; vejo-me aí.
Sim, mas depois alma caiu em si.
Momento pela metade me cortou.
Por trás dela outra já se assomou.

E num zás trás sou essa poetisa...
Começa escrever... Letra precisa.
Coitada! Não soletra meio verso.
Levada de supetão; vento adverso.

Lá do sótão, camuflada, veio essa.
Meio sisuda e sempre com pressa...
Que também muito tempo não dura.
Num beijo terno some a amargura...

Com tanta mistura desisto de tentar...
Ver em mim um só lado; pedra angular.
O meu eu verdadeiro está num enlace
do tempo, que me esculpiu a multiface.

A cada passo dado vou me revelando.
Reconheço, mas logo me estranhando.
Vária e única, sou eternamente mutável.
Serenamente me confesso: indecifrável!

Rosemarie Schossig torres


* * *
Hoje sou como as ondas

Feito um rio sossegado em seu leito
Eu movia devagar as gotas de viver
Porém em uma curva do meu peito
Encontrei pressa cabal de escorrer

Em minha frente divisei o seu mar
De olhar lindo de tirar a respiração
Quando dei por mim já era só amar
Minhas gotas se fizeram: turbilhão.

Agitada pela vastidão do seu afeto
Joguei-me em suas águas; baralhei
Nas suas escorrências fiz meu teto.

Hoje você me provoca, me fiz ondas
Seus ventos me induzem às encostas
E nas praias de nós, fazemos rondas!

ღRaquel Ordonesღ


* *
PRAZO DE VENCIMENTO
.
Venci os muros
que me escondiam,
os moinhos
que me espalhavam,
o silêncio
que me queimava.
Venci a distância
que me afastava,
a tempestade
que me impedia,
a certeza
que me corrompia.
Venci o medo
que me interrompia,
a saudade
que me amolava
as cordas
que me amarravam.

Sou eu os olhos meus.
Sem prazo de vencimento.

Amélia de Morais


* *
Romeu sem Julieta

Amor, meu roto amor !
O amor pela coisa desejada
já não basta.
Quero tudo que circunde
minha amada.

Faíscas de segundos
Cada palavra proferida,
cada migalha caída
do olhar que não é
pra mim.

Quero ser o batom
que toca tacitamente
seus lábios.
Ser a sombra brincalhona
que te faz sorrir.

Quero escrever-te em mim,
gravar-te em meu peito.
Levar-te em meus olhos
como a última imagem
desse mundo vil.

Thiago Cardoso Sepriano

* *

Ao seu encontro

Caminho ao seu encontro a cada momento
Cada passo que dou você é minha chegada
Desejaria ser tão ligeira feito o suave vento

Amaria a urgência, em você, minha estada.
Há uma poesia fascinante suspensa no ar
Simples,impossível de ser escrita por mim

Em você, apeteço os verbos bons conjugar

Nada explica a condição da espera, enfim.


ღRaquel Ordonesღ


* *
Comunicação Alternativa

No sopro do silêncio
Que aos poucos me invade
Ecoam palavras nunca ditas
Diálogos inteiros

Que atravessaram apenas
A fronteira dos olhos
E nisso, a certeza de haver dito
Tudo quanto então cabia

O que eu, agora não daria
Para ouvir-te a voz
Inda que fosse tu’alma
Em muda prece
Dizendo sem palavras
Do quanto não me esqueces

Talvez o cinza desanuviasse
E em rosa desabrochasse
O espinho que me dilacera
É pranto que nunca seca

Célia Sena


* *
Tocando meu ar

Umas notas bailam em minha mente e me levam em braços de vento
ao âmago de mim...ha um vento frio e pequenas gotas caem dos céus anis...
sou, apenas sou, e mesmo assim duvido.
Não há verdades bastantes, nem mentiras presentes, só o som...
o bailar de minhas asas transparentes e um rodopiar de uma seda
branca em meio a todo este azul...
Sinto o meu ar que entra e sai outro, com outra face, outro nome...
Permito-me voar...e adormeço na canção, para acordar pisando o infinito...
E deste lugar sinto-me parte. Assim como se partem os fios dos pensamentos permitindo-me
não mais ser este ser que se busca, para me transformar finalmente
Neste ser que se encontra.

Márcia Poesia de Sá


* *
MUITO PRAZER EM ME CONHECER

Quando me conheci realmente,
vislumbrando meu interior,
soube de meu real valor,
escancarei a porta da mente,
conhecei defeitos, virtudes,
a verdadeira amplitude,
do ser que menos sabia.
Sondei poços, armários
uma carruagem de heresias,
um profundo inventário,
franco, aberto; necessário,
descobri telhados por repor,
pisos danificados,
travas nos olhos áridos,
alicerce inconsistente,
um arremêdo de gente,
pensamentos ácidos,
tantas reformas por fazer;
fui a luta com coragem,
obra é para vida inteira,
revisar a roupagem
que veste o mais valioso,
me inteirei do primordial;
nova vida espiritual,
mais ameno, amoroso.
Ainda, não somos amigos,
vamos nos conhecendo,
noto meu eu antigo,
lentamente perecendo!

[gustavo drummond]


* *
Ontem fui rio manso

Eu era um riozinho manso
de águas cristalinas,
que descia do planalto
em direção ao mar
bem devagarzinho
O povo que vivia as margens
não ligavam muito pra mim

Jogava-me muito lixo
e me tiravam muita areia
Perdi o meu leito natural
ao me fazerem uns tais canais
os peixes não me visitavam mais
Perdi a sombras das bananeiras
e não ouvia o canto do sabiá-coleira

Um dia a nuvem o céu cobriu
veio uma chuva forte
e de riacho virei um rio
minha calha estava surja e estreita
que impedia as águas passarem
e de riozinho pequeno
ganhei força de corredeira

As águas lá de cima me empurram
com enorme violência
levando tudo pela frente
uma verdadeira cachoeira
e muita lama arrastei
Passei levando casas e ruas inteiras
e tudo devastei

Não mandei ocuparem o lugar
onde eu deveria passar
que foi obrigado a buscar
Não tenho culpa se muita gente morreu
se essa gente construiu
onde eu corria, sabiam
que isso poderia acontecer

Posso ser água, lama ou estrela
riacho, rio ou corredeira
se me fizerem guerra ou paz
se me mostrarem fogo ou ternura
serei a estrela da pintura
se respeitarem meu bem estar.

Joseph Dalmo


* *
VENTRE LIVRO

“Livros, livros à mão cheia.” (Castro Alves)
A lei do ventre livro
que corre em minhas veias
não é livre dos ventos
que espalham as areias.

Espalho espumas no tempo
limpado nossas idéias.
A minha mente vagueia
procurando novas opções...

Sinto a responsabilidade
de tudo que escrevo.
De grão em grão as areias
fazem as dunas.

Eu integro-me no espaço
e desintegro-me nos laços
que prendem-me à sociedade...

Tudo que me invade,
eu computo,
eu sepulto,
eu modifico.

A.J. Cardiais

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