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domingo, 27 de junho de 2010

POETA ALEXANDRE DE PAULA!

Dos Quereres

Eu quero ser livre
Mais, bem mais que qualquer moderno
Para fazer meu verso terno
Ou ríspido quando assim o quiser

Quero-me liberto
Para usar a rima rica
Ou a pobre quando a mim
For aprazível

Quero o vocábulo raro
E o léxico vulgar
Para falar do povo que agora chora
Ou para cantar as dores de outrora

Quero a métrica perfeita
E o verso livre, branco
Para louvar as sutilezas
Da rosa a desabrochar

Quero o arcaísmo
Que há muito fora guardado
E o neologismo
Qu'inda vou criar

Quero a mesóclise
Colocar-me-ei perfeito
Mas, também imperfeito
Me colocaria, por que não?

Eu quero ser o momento
O que a arte pedir
Rabiscos dispersos numa folha
Ou formas claras num céu qu'inda não há.

Alexandre de Paula


Pranto natural

Sei que choras a rasgar o alvo céu
Finas gotas dum pranto cáustico e ácido
Derramas sobre nós num gesto plácido
A dor que te causara pobre réu

A ganância, o desejo vil, tão flácido
Queimaram tua densa mata ao léu
E já na boca agora está teu fel
Fenecem com o ardor do viscoso ácido

Já não pode-se apenas explorar-te
Degradar-te, destruir-te em toda parte
Agonizas, porém inda resistes

Levantar-te-ás ao fim dos cantos tristes
Saberão, enfim, que nada teu foi vão
Teu choro há de lavar a podridão.

Alexandre de Paula

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